O pastor Silas Malafaia protagonizou uma cena constrangedora durante a sessão especial do documentário Apocalipse nos Trópicos, dirigido por Petra Costa, na última quinta-feira. Convidado para assistir ao filme, ele deixou a sala aos berros, visivelmente irritado com sua própria participação registrada nas gravações.
A produção aborda o avanço dos grupos evangélicos e a ascensão de lideranças religiosas de viés fundamentalista na política brasileira nos últimos anos. Malafaia, que se consolidou como figura central desse movimento, não hesita em recorrer ao discurso religioso para influenciar o voto de seus seguidores.
Ao longo de sua trajetória, o pastor transitou por diferentes palanques. Já declarou apoio a Lula, José Serra e Aécio Neves, até firmar aliança com Jair Bolsonaro pouco antes do pleito de 2018. Após eleito, Bolsonaro visitou a igreja liderada por Malafaia e foi ovacionado pelos fiéis com gritos de “Mito!”.
Em um dos trechos mais emblemáticos do filme, Malafaia utiliza a Bíblia para exaltar o novo presidente:
“Deus escolheu as coisas fracas para confundir as fortes. As desprezíveis, as que não são, para anular as que são, para que ninguém se glorie diante dele. É por isso que Deus te escolheu.”
A diretora Petra Costa enfatiza essa cena, repetindo os versículos citados e destacando a narrativa de que Malafaia teria ajudado a moldar um novo perfil de liderança no país, que influenciaria o cenário político nos anos seguintes.
O documentário também expõe o modo agressivo com que o pastor defende seus interesses. Quando Bolsonaro indicou André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal, por exemplo, Malafaia ameaçou publicamente os senadores que resistissem à nomeação do chamado “terrivelmente evangélico”. Já durante a campanha presidencial de 2022, quando alguns líderes religiosos sinalizaram apoio a Lula, ele não hesitou em ameaçar “destruir” a reputação de cada um nas redes sociais. “Aqui a gente arrebenta eles”, declarou, mostrando o celular.
Outro momento revelador ocorre quando o pastor perde a paciência com um motociclista que mudou de faixa em sua frente. Sem constrangimento, Malafaia afirma que seus seguranças dariam um “susto” no homem, demonstrando uma faceta de intimidação que parece orgulhar aliados próximos de Bolsonaro em Rio das Pedras.
Símbolo da teologia da prosperidade no Brasil, Silas Malafaia construiu um império bilionário a partir de sua igreja no subúrbio carioca. Vaidoso, permite ser filmado dirigindo sua BMW blindada e embarcando em seu jato particular batizado de “Favor de Deus”.
Apesar de se orgulhar do sucesso financeiro e político, o documentário termina expondo um erro de previsão do pastor. Antes das eleições de 2022, ele garantiu que Lula não teria chances entre os evangélicos:
“Ele tá ferrado no mundo evangélico. Não vai dar para ele, não”, disse confiante em entrevista.
Após a vitória de Lula e a derrota de Bolsonaro, Malafaia passou a incentivar abertamente um golpe militar. Em vídeo dirigido ao ex-presidente, chegou a afirmar: “O senhor tem poder de convocar as Forças Armadas para botar ordem”. Mesmo com esse posicionamento, ele não foi incluído até agora pela Procuradoria-Geral da República na lista de investigados por participação em articulações golpistas.
Com informações de O Globo
